Solitária numa cidade estrangeira, uma mulher no começo da velhice se dedica a tarefas corriqueiras. Observa o voo dos pombos no pátio, frequenta a piscina, marca consultas médicas que considera cada vez mais urgentes. Mas, dentro de casa, empreende uma atividade peculiar, quase clandestina: lê os diários de seu pai. E escreve suas próprias linhas nos versos das páginas. O contato entre as duas grafias vai desvelando as pistas de uma história sempre incompleta.
Mar azul , segundo romance e quarto livro ficcional de Paloma Vidal, retoma alguns dos elementos que a consagraram como uma das vozes mais marcantes da prosa brasileira contemporânea. A memória zona opaca de elipses e de impasses é pedra de toque para uma trama que nunca se deixa ver por inteiro. No compasso melancólico de um cotidiano marcado pelo exílio, o passado ressurge em fiapos, peças de um quebra-cabeça naturalmente movediço, no qual os nomes de personagens e cidades, a cronologia ou os fatos não exigem evidência, em geral, não passam de insinuações.
Isto não é um diário, nem uma carta, nem uma autobiografia, nem qualquer outro modo de escrita íntima. Só escrevo porque ele escreveu do outro lado, registra a protagonista. Escrever no verso é uma forma de estabelecer um contato não apenas com sua própria memória, mas também com a memória do pai, com as pegadas indecifráveis de sua ausência. E com um tipo muito familiar de barbárie.
A ausência e o luto, a distância e o esquecimento pairam sobre Mar azul. Apenas a água, o oceano e as lembranças de uma viagem à praia parecem um norte possível, alento para a dificuldade de fixar afetos, de decifrar as próprias dores. A solidão fruto do hábito paterno de estar sempre de partida aproxima a protagonista de Vicky, que se tornará sua melhor amiga. É a experiência desse convívio que abre o livro, cujas primeiras páginas são tomadas por fragmentos de diálogos entre as duas, ainda adolescentes.
São diálogos forjados pelo constante jogo de revelar e esconder, inquirir e insinuar, contornar o perigo e as ameaças secretas com um jeito ora titubeante, ora luminoso. Nesse jogo, perseguem a dúvida como elemento precioso e aflito da intimidade, enquanto refletem a identidade, marcada simultaneamente por vertigens de silêncio e ímpetos de violência, de quem foi jovem na América Latina, em algumas décadas do século passado.
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ISBN | 9788532528018 |
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Verlag | Rocco |
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