No processo de construção dramática desenvolvido por Pina Bausch, o performer orienta sua expressão pelo aproveitamento de sua própria experiência corporal. Uma construção intrigante de uma criação que não parte de um libreto preestabelecido ou de um texto escrito, mas sim da matéria viva e pulsante de corpos. A dramaturgia nascente coloca uma evidência: a dança é o movimento do corpo entregue ao seu mistério. Fazer advir essa linguagem interior, comum a todos e desconhecida de cada um, é a aposta paradoxal dessa nova dramaturgia, fundada na significação do movimento, que produz narrações que se superpõem. O jogo teatral de Bausch se constrói através de uma gramática que enuncia uma frase com o corpo de um ser já existente antes da cena como realidade vital. Jogando sobre o potencial histórico-dinâmico do corpo, os temas se declinam e o Tanztheater descobre uma via de atualização para o corpo tornado frase-movimento que desenrola seu texto como uma caligrafia. Um estranho texto feito de sangue, forças e memória. Uma operação de hibridização de códigos que apresenta, como produto final, uma dramaturgia corporal específica, escrita com uma nova sintaxe corporal.